quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Perdeu seu animal de estimação ? Conheça o Petpista - Priscila Kirsner entrevista Vitor Schmid
o Vitor lançou agora em janeiro um site especializado no encontro de animais desaparecidos e na adoção daqueles nunca encontrados. As pessoas podem ajudar apenas tirando fotos de animais nas ruas e enviando ao site sem se responsabilizar pelo animal, apenas mandando “pistas” ao site que envia a mesma ao dono.
Todos serviços são totalmente gratuitos e auxiliados por um inédito sistema informatizado e virtual de busca inteligente de animais. É uma idéia inédita que pode acabar com o sofrimento de muitos animais e seu donos.
Esta plataforma é para todo o Brasil, com cadastramento e serviços gratuitos. Só quem já perdeu um animal de estimação sabe a importancia de um site como este, por isso vamos divulgar!!
Gostou da idéia? Entre e se cadastre http://www.petpista.com.br/ e saia tirando fotos por ai e ajudando os nossos amigoes!! :)
Mario Mantovani - SOS Mata Atlantica fala com Priscila Kirsner
Esta foi uma entrevista gravada, exibida na TV Clima Tempo, no canal 102 da SKY e transcrita especialmente para os leitores da revista Viverde!
Priscila – Quando começou o seu
interesse pelo meio ambiente?
Mario Mantovani – Há muito tempo
atrás. Eu acho que eu tinha 10 anos de idade quando eu falei “olha eu vou
trabalhar com isso, vou fazer isso da minha vida”. Eu gostava muito de acampar,
de ir para a natureza, então eu fui entrando nessa “vibe”, trabalhando bastante
com acampamentos. Uma coisa que eu gostava era de muita aventura, viajar de
carona por toda região e depois pelo Brasil todo. Isso foi despertando um pouco
este lado, então decidi fazer geografia, e fui para esse lado, sempre
aperfeiçoando.
Desde meu
primeiro emprego eu sempre trabalhei com organizações não governamentais. Isso
me aproximou de movimentos sociais, destas organizações que trabalham focadas
no meio ambiente.
Priscila – A S.O.S. tem muita
história, mas eu queria saber um pouco mais do Mario antes da S.O.S. Onde foram
essas ONG’s em que você trabalhou?
Mario Mantovani – Toda essa
história de acampar me aproximou do movimento escoteiro. Em 1972 foi a
conferência de Estocomo, primeira conferência de meio ambiente que teve no
planeta, e tinha um tema muito legal: “Pensar Global e Agir Local” , era um
tema muito forte. Como não havia na época movimento ambientalista, chamaram
então os escoteiros para fazer essa divulgação no mundo todo. Então eu vim para
cuidar desta campanha, que foi o que me despertou dentro do escotismo, por ser
uma coisa global.
Me
lembro que naquela época imprimíamos as informações sobre a conferência no
Mimeografo. Imprimíamos folhinhas e folhinhas e mandávamos para as pessoas. E
isso disseminava, mesmo tendo uma dificuldade muito maior do que encontramos
hoje. Naquela época era preciso convencer as pessoas, pois pensar a respeito do
meio ambiente era insanidade.
Hoje é um tema que tem
obrigatoriedade. Qualquer emprego, qualquer atividade na industria não tem como
escapar. Na própria economia, não há aspecto da economia hoje, onde a questão
ambiental não está presente. Anteriormente quando se falava “camada de ozônio”
era uma coisa impensável, e hoje não temos duvidas. As tecnologias confirmam o
que na época era apenas uma intuição. E eu que estava muito atenado nisso
acabei me usando para minha própria profissionalização. Conheci o movimento, todos os aspectos,
quando se formaram as grandes redes de organizações não governamentais.
Integramos com as organizações internacionais, os fóruns, os debates, e isso
foi fazendo cdom que a S.O.S. se tornasse a maior organização ambientalista
brasileira.
Priscila – hà quanto tempo você
está na S.O.S.?
Mario Mantovanni – 22 anos. Acompanhei
a formação da SOS. Trabalhava no governo naquele momento fazendo conselhos
municipais de meio ambiente. E fui ver surgir a SOS Mata Atlântica na Ilha do
Cardoso, no Vale do Ribeiro, juntamente com cientista, empresários,
marketeiros, ambientaliosta, pessoas de todos os times. E por isso hoje a SOS
tem esse aspecto de juntar as pessoas, catalisar os interesses para poder fazer
a proteção ao meio ambiente.
Priscila – Vinte anos atrás era
mais difícil ou mais fácil que hoje?
Mario Mantovani – Acho que hoje
tudo é muito mais fácil. Mesmo a gente apanhando no código florestal, onde o
Brasil retrocedeu demais para que já estava lá na frente, fez a Eco92, a gente
viu agora o retrocesso que foi esse ano com a Rio+20.
Mas
eu acho que hoje é muito mais fácil. Você coloca uma notícia e ela corre. Você tem cada vez mais pessoas se apropriando
do tema. Todas as profissões hoje puxam para isso, e as empresas se adaptando
as questões ambientais. O nome da empresa hoje vale muito mais do que todos os
ativos. Isso tudo faz com que a questão ambiental se torne um valor agregado
importante, ele valoriza demais aqueles que tem essa preocupação.
Você
nunca teve antes a oportunidade de conhecer um projeto antes dele começar.
Normalmente a gente tinha que mitigar depois que estava a feito, como em
Cubatão, uma de nossas lutas dos anos 80, grandes obras de usinas nucleares,
obras que causam enorme impacto no meio ambiente. Hoje a sociedade tem, nos
estudos de impacto ambiental, um jeito de saber o que vai acontecer. Então é
determinante, para a transparência, participação, e até mesmo para saber se
estão roubando este dinheiro. Ou seja nós temos um instrumento que pode dar ao
cidadão um jeito do interferir nas coisas que vão causar impacto. Estamos vendo
a recuperação do São Francisco, Belo monte, são discussões que à alguns anos
atrás seriam consideradas anti-nacionalistas.
Priscila - A ajuda dos internautas, a pressão deles, é
fundamental para a mudança?
Mario Mantovani – Nessa camapnha
do código florestal foi determinante. Em parceria com a Avaaz por exemplo, nós conseguimos
mais de um millhão de assinaturas. Pena que o governo não entendeu nada. Nós
levamos lá, protocolamos, e não aconteceu nada. Mas a sociedade depois cobra.
Estamos fazendo agora campanha eleitoral com isso, a própria SOS.
O Clique
arvore em que você plantava pela internet. O Rodrigo que estava na ECO 92,
tinha apenas 14 anos quando veio com essa idéia. Ele trouxe isso para a SOS
baseado no Hungrysite, onde você clicava e ajudava a erradicar a fome. Então
ele disse que seria uma boa idéia fazer isso com arvores, nós achamos uma
excelente idéia. E hoje são mais de trinta milhões de arvores que as pessoas
clicaram e plantaram.
Se não
houvesse a internet nada disso seria possível. Redes sociais são determinantes
neste aspecto. Lógico que tem algumas loucuras, como por exemplo aquela
história que lá nos Estados Unidos tem um mapa do Brasil sem Amazônia. E isso
começa a circular e as pessoas começam a achar que é verdade, e isso não tem
nada a ver. Por isso é preciso aprender a fazer isso, teruma organização seria
e bons parceiros. Aí estas ferramentas tem uma fundamentação muito grande. Essa
da Amazônia era um pessoal ligado a segurança nacional, que adotava estes
projetos mirabolantes.
A mesma coisa
aqueles que falam contra as mudanças climática hoje. Estão usando o site para
dizer “os ambientalistas estão mentindo, Al Gores está mentindo”, e isso é uma
coisa que a ciência já provou. Você pega um cara que tem lá um trabalhozinho,
que nem é reconhecido, e se coloca como o cético do clima. Mas é muito mas para
ter um contraponto.
Masd hoje conseguimos usar para fazer coisas
sérias. A SOS quando falava lá em 86 “estão tirando o verda da nossa terra” era
intuitivo, nós falavamos observando a Serra do Mar. Tanto que em 88 na
constituição colocamos a Serra do Mar como bioma, e nem era bioma. Olha com é
curto o espaço de tempo! Como não tem conhecimento acumulado! Tem mais
informação sobre Mata Atlântica nos jardins botânicos de Nova York ou lá da
Europa do que no Brasil hoje. E hoje quandop a SOS fala “estão tirando o verda
da nossa terra” dá lá para ver pelo
Google, você dá a coordenada x e y e está lá. Quando você ia no INP (instituto
de pesquisas espaciais) e se colocava uma roupa para trabalhar com imagens de
satélite, hoje você faz do seu smart phone. Isso é uma ferramenta muito grande
para a conservação, você consegue fazer uma denuncia e já veincular via
internet. È uma coisa que naquele momento nós não tínhamos.
Priscila – Porque o nome SOS Mata
Atlântica?
Mario Mantovani – è o código internacional de “estamos em
perigo. Ou seja, nós queríamos dizer:está em perigo a Mata Atlântica. Só que
não tinha nem o conceito de Mata Atlântica. Foi muito importante a SOS trazer
esse conceito. Dizer olha está floresta não é a que está lá longe, ela está
aqui no seu quintal. 60% da população brasileira teve a Mata Atlântica no
quintal. Dos 5 mil e tantos municípios do Brasil 3 mil estão onde um dia foi a
Mata Atlântica.
Então esse é
um conceito que a gente veio trazendo para a pessoas. E é interessante que a
gente conta história, especialmente para estrangeiros que acham que o Brasil é
uma imensa Amazônia. Eles perguntam “que lugar da Amazônia está a Mata
Atlântica?”, a genta fala “Não, Mata Atlântica é um bioma, Cerrado é outro,
Pantanal é outro”, e é isso que faz o Brasil ser o campeão na biodiversidade.
Alias na Mata
Atlântica a gente tem uma ameaça onde é hoje a maior área de biodiversidade do
planeta. Entre Ilhéus e Itacaré há um lugar chamado Comburu, onde um botânico
de Nova York identificou 460 espécies vegetais de porte arbóreo por hectare,
enquanto na Europa tem 20! Não dá nem para competir o Brasil é mega diverso. E
nós não damos valor. Tanto que esta região está ameaçada, resolveram por um
porto lá em cima. O governo não fez a parte dele para transformar aquilo num
parque, mesmo com recurso internacional para isso.
Nós detruimos
93% de Mata Atlântica, e nestes 7% que restam na não sabemos o que tem ainda. E
estamos detruindo um tesouro! É como se tivesse uma grande bibliote e nós
fossemos queimando para depois ver o que sobra, sem conhecer ou catalogar. Este
é o problema, pois talvez lá tenham respostas que buscamos na medicina, tenham
respostas fantásticas. Hoje pelo menos sabemos que a Mata Atlântica serve para
a fertilidade do solo, produção de água e para manter o clima. Tudo isso são
coisas importante e nós não tínhamos essa idéia quando surgiu a SOS. Mas a cada
dia vamos agregando valores.
Infelizmente o
Brasil teve esse retrocesso agora, dizendo que a floresta não tem valor. Este
pensamento de 1700, 1800, ganhou um destaque agora. Mas nós podemos repor isso.
Com movimento e formação, como essa conversa que estamos tendo agora.
Priscila – Muita coisa a gente
pode fazer pelo reflorestamento. Mas se não temos nem acesso aquelas arvores,
se elas foram extintas antes de descobrirmos. Como fazer esse reflorestamento?!
Mario Mantovani – Isso mesmo, e
quando dizemos que a Mata Atlântica perde um campo de futebol por minuto é um
recurso usado para explicar para as pessoas. Quando se fala tantos hectares,
tantos mil quilômetros quadrados ninguém entende. Mas um campo de futebol, hoje
para ter uma cara de Mata Atlântica, precisa ter mil e seiscentas arvores.
Sendo que 70% delas tem que ser pioneiras ( que crescem rapidamente). Depois as
secundarias, e por ultimo aquelas que
chamamos de madeira de lei, ou clímax. Essa é a cara da Mata Atlântica, ou
seja, você tem que muita espécie, pelo menos 80 espécies diferentes. É como se
fossem 80 individuos diferentes, deste 1600, de oitenta famílias diferentes.
Por isso é mais caro recuperar. Por isso nós temo que pensar quando vamos
destruir os pouco fragmentos que restam. São menos de 300 mil fragmentos com
mais de mil hectares. Por isso o SOS, por isso essa chamada dizendo “olha, o
que está aqui segura, aqui está a agua que você bebe, aqui está o clima que
você precisa”.
Em São Paulo
temos até 8° de diferença entre bairros. Dentre os bairros como o Jardins onde
temos áreas verdes e os bairros onde mora a população amontoada. Isso para quem
tem problema respiratório é a diferença entre a vida e a morte.
E olha que
está historia das ilhas de calor nós falávamos lá em 1988. Primeiro trabalho
que a SOS produz, com uma jovem que tinha acabado de sair da universidade, era
uma geógrafa que trouxe esse dado dizendo que tem diferença de temperatura
entre os bairros. Naquele momento talvez nem falávamos da questão climática. E
hoje falam de 0,5° no planeta, derretendo as camadas polares. Mas para nós que
vivemos aqui tem um impacto direto no nosso modo de vida.
Priscila – Quais são as ameaças á
Mata Atlântica? Na Amazônia é o desmatamento pela madeira e gado. E na Mata
Atlântica?
Mario Mantovani – Na Mata
Atlântica hoje é para a expansão das cidades. Já foi a convenção da floresta
para a agricultura, o café e a cana. A cana agora em São Paulo não tem esse
impacto pois ETA em cima dos pastos. Mas essa agricultura de hoje traz mais veneno
e mais tecnologia está agredindo muito, pois o mau uso do solo faz com que os
rios acabem ficando mais rasos. A erosão é muito forte e temos visto perder
muita fertilidade de solo com isso. Mas hoje a grande ameaça a Mata Atlântica é
a expansão urbana.
Ainda tem
grande projetos impactando, como este do sul da Bahia com os portos, tem grande
impacto. A parte de turismo também com a especulação imobiliária das regiões
tem sido uma ameaça muito grande. Então é preciso conectar estes fragmentos.
Hoje nós temos
um conhecimento que antes a gente não tinha. A gente imaginava que aqueles
fragmentos de Mata Atlântica, eles sofriam uma pressão que a gente chama de
pressão de fora. Você tinha veneno, fogo, semente, capim, tudo isso acabava
fazendo essa pressão em cima destes fragmentos. Mas agora descobrimos uma coisa
chamada erosão genética: por que as espécies se limitam a estes pequenos
fragmentos de mata, eles acabam se reproduzindo entre eles, como se fosse primo
casando com primo ou irmão com irmão. Isso causa um empobrecimento muito rápido
destes fragmentos.
E nós
pensávamos em fazer isso através da mata ciliares, aqueles cordões de vegetação
em torno de rios. Nessa mudança do código florestal estão querendo tirar as
margens em torno de rios. Seria um grande desastre para o rio, para a natureza e
para a sociedade.
Priscila – Esse enfraquecimento
inicial começa com a falta de imunidade?
Mario Mantovani – Também, ele se
isola. A própria flora, todas as espécies vegetais acabam se isolando. O animal
não sai mais por que vai ser caçado. Ele não sai por que tem fogo ou veneno,
ele acaba saindo, vai lá come alguma coisa e morre. E assim não continua mais a
linhagem. Isso causa uma perda gigantesca.
Por isso é
preciso cuidar. Por isso é preciso de leis de incentivo. Mais de 80% do que
resta de Mata Atlântica esta em mão de particulares. E eles prestam um serviço
para todo mundo. Então nos temos que criar um incentivo para essa pessoa que
tem essa floresta, porque ele está ajudando a manter a biodiversidade, ele
garante a água, tudo o que nós falamos. Por isso é preciso dar valor a essa
floresta que está em pé, e começar a recuperar as regiões que não tem proteção.
Priscila – Como está a balança
entre recuperação e destruição?
Mario Mantovani – Ainda a de
destruição ganha. Nós temos uma cultura de destruição. Nós olhávamos para a
mata antigamernte e falávamos “isso precisa ser conquistado”, era uma forma do
homem se sobrepor. Tiravam a madeira, botavam fogo em tudo, era uma necessidade
de conquista. Tivemos até incentivos do governo para fazer isso.
O sonho era
ter um jardim como na Europa. Então se traz as coníferas, se traz aqueles tipos
de vegetação. Você tirava vegetação natural e colocava vegetação exótica,
principalmente pinheiros, para parecer a Europa.
E trouxemos
muitas coisas devastadoras. Nos navios negreiros, vieram os capins da
África,isso disseminou de tal forma que hoje não temos mais capim nativo no
Brasil, esse capins foram devastadores. Tivemos tambeém uma espécie de
caramujo, que seria o escargot dos
pobres, tomou conta e hoje não há lugar no Brasil onde não se encontre este
caramujo. São Pragas grandes que dão, e você pega uma área debilitada, a mata
já devastada,e isso não tem mais predador, não tem mais nada que reaja a este
tipo de agressão então acaba tomando conta.
Priscila – É, uma floresta com
arvores de outros países, nossos animais não estão aptos a sobreviver.
Mario Mantovani – Exatamente. E
e pelo contrario, as vezes os animais vão usar aquele tipo de arvore acabam se
contaminando, pois aquele tipo de seiva não estava na história alimentar do
animal.
O que nós
vimos é que essa coisa de conquistar a natureza acabou nos afastando.
E tem uma
coisa terrível. No Brasil a gente sempre viu a natureza como uma forma de
apropriação. E isso não se colocava no custo. Então não se coloca no custo a
água utilizada. Se produzimos soja, nós não estamos exportando apenas soja,
estamos exportando água. Assim como carne, café, toda a industria de base.
Temos agregado ao que exportamos a água, a energia, tudo presente no processo.
Então nós usávamos
toda a natureza a nosso favor e não devolvíamos nada, sempre nos apropriando
cada vez mais. E hoje estamos vendo o custo de tudo isso, e custa muito caro
essa restauração. Então o pouco que tem nós precisamos incentivar para que
fique, e assim teremos a recuperação da naturerza a nosso favor.
Por isso esta
desigual a balança. Tem muito mais destruição que proteção ainda. É um ato
cultural que nós vamos ter que mudar ainda. Talvez com essas informações.
Trazendo muita informação, levando isso para as redes, mobilizando.
Priscila – Mas tem diminuído a
diferença entre desmatamento e recuperação? Quer dizer, cada vez menos
desmatamento e cada vez mais reflorestamento.
Mario Mantovani – Infelizmente
não. No Brasil existe um problema desde 1500,quando começamos com capitanias
hereditárias, que é a concentração de terra. E o jeito de concentrar terra
desde 1500 é devastar, pro fogo em tudo e dizer “aqui tem dono”. De 1500 pra cá
não mudou nada. “Terra publica, não, terra nossa”. E é impressionante que, esta
mudança do código florestal valorizou essa idéia de que para se dizer que é
dono da terra no Brasil você tem que devastar, colocar fogo, expulsar
populações tradicionais. E usando terra que não é terra publica, é nossa terra.
As
vezes dizem que nós queremos impedir o desenvolvimento, não é nada disso,
também dizer que “O Brasil tem mais de 60% de terra improdutiva”, imagina você
ouvir isso em 2012. Terra de índio, unidades de conservação, são terras nossas,
nós que não temos nem sequer “minha casa, minha vida”, mora a maioria da
população brasileira em favela. O que nós temos hoje é um parque nacional,
essas terras que eu vou deixar para as futuras gerações. E isso não é
valorizado no Brasil. Se valoriza aquele que vai lá, devasta e fala “isso é
meu”, meu nada, é nosso, ele roubou da gente. E esse tipo de coisa ainda está
valorizada, na Amazônia está cruel. Talvez isso foi o que fez essa pressão
contra a legislação ambiental brasileira.
Na
Mata Atlântica tivemos uma coisa legal: a mobilização da sociedade por quatorze
anos na lei da Mata Atlântica. Fazendo abaixo assinado, indo para a rua,
chamando atenção, nós conseguimos a primeira lei de bioma no Brasil, que era,
não devastar mais naquele ritmo alucinante, pois assim a floresta não tem
capacidade de se recuperar. Então, parou de devastar, já foi um ganho.Agora nós
temos que recuperar, ainda não entramos nesta fase. Mas estamos aprendendo.
Hoje já se tem mais condição de fazer isso do que há alguns anos atrás.
Então, na Mata
Atlântica o processo de desmatamento diminuiu. Sinal que a lei funciona, não
acabou a economia, o Brasil continua igual, e a gente ta funcionando. Na
Amazônia, o processo que aconteceu na Mata Atlântica está se repetindo hoje. A
devastação é pura e simples ao interesse destes grupos que conseguem cada vez
mais fazer intervenções a natureza. Inclusive com dinheiro público, dinheiro
nosso, que hoje financia a devastação da Amazônia. Nós não aprendemos nada
nesse tempo. Talvez agora, com o debate do código florestal, a gente pode reagir.
Eu acho que é isso que a sociedade tem que fazer, falar “opa, espera aí, o
dinheiro do BNDS está indo para fazer frigorífico no sul do Pará? Isso não
pode”, “o nosso dinheiro está financiando a expansão da soja em cima da
floresta? Não vai fazer isso, o crédito agrícola é dinheiro nosso!”. Então nós
vamos ter que um dia aprender para onde vai o nosso dinheiro. Vai para
proteger, meu dinheiro vai fazer uma economia sadia e não uma economia que quem
decide o valor da soja é em Chicago na bolsa de valores. Esse tipo de coisa nós
vamos ter que aprender. Como desde 1500 a gente foi acomodando, foi deixando
acontecer isso, talvez agora a gente aprenda com a natureza. Mais um
ensinamento da nattureza dizendo “Custa muito caro para a sociedade fazer este
tipo de devastação”.
Priscila – Mas o problema é que,
as pessoas se sentem muito pequenas quando enfrentam este tipo de problema. Eu
adoraria impedir qualquer coisa, só que a gente ta lidando com os grandes, com
as empresas grandes.
Mario Mantovani – Quanto maior,
maior o tombo. Quando o Greenpeace foi lá e segurou o navio de soja, saindo de
Santárem, disse “essa soja devasta a Amazônia” e isso foi parar nos portos na
Europa, foi na porta do Mcdonalds chiar, voltou a compra. E era um maluco, que
abraçou na arvore lá e começou assim a historia. São esses malucos que mudam a
historia.
Então
eu acho que hoje, uma empresa tão grande como essa, tão poderosa, não resiste a
uma denuncia de devastamento. Portanto a gente tem mais força hoje. Uma noticia
que circula na internet, com fundamento, da muito mais impacto do que você ir
lá e gritar como a gente ia antigamente. Enfrentávamos os militares, e achavam
ridículo, devido a mídia. Mas mesmo assim aquilo foi crescendo e muita gente
fez isso. As maiores reações da sociedade foi na época da Revolução Hippie nos
anos 70. E esse tipo de coisa tem maior probabilidade de acontecer agora.
Não
tem hoje que está imune. A natureza não está imune, mas também os grandes
proprietários não estão imunes. Lógico que tem mecanismos. As grandes empresas
hoje de agronegócio no mundo não aparecem dizendo “sou eu quero acabar com a
natureza”, eles colocam gente pequena para fazer isso, usam mecanismos cada vez
mais elaborados. Mas a cada dia se descobre. Nós não vimos o Wikileaks
descobrindo documentos da mais alta segurança mudial? Cada dia nó vamos ter
mais disso, e acho que nós devemos estar preparados. O melhor de tudo isso é a
gente ter um ideal de vida. Eu vou proteger o que? Vou proteger o que é de todo
mundo. Aquele cara que está La querendo pegar seu crédito agrícola, ele quer se
dar bem agora e depois que se lasque todo mundo. Nós estamos falando o seguinte
“eu quero água, eu quero clima, eu quero biodiversidade, eu quero que os
animais tenham floresta pra viver, eu quero que a nossa vida exista de fato”.
Estamos pensando em coisas para todo mundo, não apenas para mim, pára o meu
momento imediato. Eu acho que isso que faz mostrar quem é quem, neste jogo.
Lógico que teremos estes enfrentamentos para sempre, mas com muito mais
tranqüilidade. E eu acho que hoje é muito mais fácil.
Eu
me lembro que nós íamos, as vezes, para uma manifestação na Billings. E
ficávamos, 6 ou 7 pessoas, vestidas de preto, com umas placas dizendo “vai
acabar a Billings”. Os jornais tiravam foto da gente com a Billings de fundo,
ridicularizando o que nós falávamos. Menos de 20 aos depois, era só fezes na
Billings. E quanto custa isso? Hoje
talvez 1 Bilhão pra recuperar. Um dinheiro que poderia estar sendo usado na
educação, em hospitais. Está sendo usado para tirar excremento. Isso tudo por
achavam que para produzir energia não precisava de água limpa, e deixaram
estragar, uma represa maravilhosa. Então este tipo de visão não pode mais. E eu
acho que aí que a historia ambiental vem para ajudar. Fazemos analises
ambientais, avaliações, que há alguns anos atrás nem se pensava. Era apenas um
engenheiro pensando “o que eu preciso? Alguma coisa liquida para empurrar a
turbina” e se fazia isso, e olha quanto custa hoje para a sociedade. Sem contar
que 70% das doenças no Brasil são de origem hídrica. Nós conseguimos trazer a
doença para dentro da cidade, com uma represa completamente contaminada como
essa.
É
essa informação que a gente tem que ter. Cada dia melhor, e a gente vai
multiplicando. O que eram 6 ou 7 malucos naquele momento, hoje as pessoas não
tem mais dúvida. Já tem uma legislação de água, já tem coisas que a gente
conquistou. Mesmo com a reação dessas oligarquias, ou desses atrasos,
contestando esses avanços, nós temos muito mais condição de reagir hoje do que
em outro momento.
Priscila – Você acha que a
consciência das pessoas tem melhorado?
Mario Mantovani – Eu acho que no
Brasil consciência ainda é no bolso. Ganhou um pouco mais de dinheiro, vai
correr comprar o carro, e fica devendo 70 prestações. È aquelça historia que a
gente fala “quem nuca comeu mel, quando tem mel quer se lambuzar”. Nós vamos
passar por este período. Lógico que nós vemos hoje, o carro que era meu sonho
de consumo aos 18 anos, poluía mais que uma frota inteira hoje. Os carros
antigos eram extremamente poluentes, você fedia a gasolina por seis meses quando
saía (risos). Era um problema serio. Hoje você tem muita tecnologia, mas a
população tem esse desejo de consumir.
E
eu acho que o que vai diferenciar aquelas lutas do anos 70, quando a gente era
contra os projetos militares que colocavam o meio ambiente em risco. Nos anos
80 a gente começou a ver aquelas organizações crescerem no Brasil. Foi uma
coisa que implodiu. Era a redemocratização, era a participação de todo mundo.
Nos anos 90, a rio 92 trouxe o tema de desenvolvimento, de sustentabilidade,
foi um movimento maravilhoso. Nos anos 2000, nós também estamos percebendo que
muitas dessas coisas mudaram, que vai fazer diferença no movimento
ambientalista daqui para frente. Chama-se consumo. É ai que está a chave de
tudo. Se eu não compro esse produto, se eu exijo que esse produto que tenha
melhor eficiência de energia, é o que não polui, é aquele que neutraliza
emissões e tudo isso, eu vou fazer a diferença.
A história que
a gente brincava, da SOS, de xixi no banho, era para mostrar isso. Por mais
absurdo que era, se você não fizer nada pra salvar o planeta, pelo menos faça
xixi no banho porque economiza água. Então agora nosso hábitos de consumo vão
determinar. Nós vamos esgotar o planeta rapidamente, ou a gente vai dar uma
chance para nós e para as futuras gerações. Eu acho que agora a gente tem que
chamar muito a atenção para isso. E tem que ser super radical. Não comam carne
de segunda-feira, um movimento que estamos apoiando hoje, serve para pensar um
pouco neste dia da semana no que está acontecendo na floresta amazônica com a
expansão da pecuária. Lógico que eu vou pressionar a grande empresa produtora
de carne para dizer “você está comprando gado, que destrói a floresta
Amazônica” e isso é um jeito de fazer a luta. E logicamente hora que todos os
carros entrarem num congestionamento gigante que parar tudo vão pensar “que
loucura que a gente fez”. E talvez esses carros todos se tornem vasos,
decorando nossas garagens pela falta de espaço para andar na rua.Os
proprietários vão continuar pagando as prestações e talvez os carros sejam
vendidos por quilo, pois não valeram mais nada.
Então é isso
que nós teremos que aprender. Vamos passar por este momento do consumo. Mas acho
que o Brasil vai fazer uma volta muito rápida, quando percebemos que a nossa
atitude é que vale. Se eu consigo fazer uma coleta seletiva, pois não adianta
querer salvar o planeta se eu não consigo separar uma caixinha de leite. Então
eu acho que essas coisas quanto mais simples, mais vai ajudar o meio ambiente.
E é por isso que vai ser mais eficiente a mensagem que nós vamos fazer de meio
ambiente hoje.
Priscila – Belo Monte. Você é
contra, a favor? Quais são os problemas? Por que os ambientalistas ficaram tão
contra? Por que ela vai para frente?]
Mario Mantovani – A historia de
todas ad hidroelétricas na Amazônia já diria o que vai acontecer. Belo Monte
vai se reproduzir outra Tucuruvi, outra Balbina. Balbina é tão ruim que não
consegue se quer abastecer uma cidade como Manaus. E aquilo nós vamos para para
o resto da vida, aquilo custou bilhões. Como uma usina nuclear que a gente tem
hoje. São investimentos que não justificam o custo para a sociedade, não precisa
fazer isso. Hoje nós já temos outras formas de energia. Está vindo muito rápido
tecnologias, e nós estamos ainda querendo fazer o mesmo projeto de 1970. Da
ocupação da Amazônia, de mostrar que o homem é capaz de dominar o rio. Vai
mudar um pouco a tecnologia, vai fazer fio d’água. Mas o problema é que a gente
ta fazendo só de linhão, que vai para aquele lugar, não tem sentido fazer o
tipo de ocupação previsto para Belo Monte.
Eu
não estou falando de lugar para mico-leão viver, não to flando de peixinho, de
bagre. É a farra das empreiteiras que manda no Brasil ainda. Grandes obras com
muito dinheiro definem o projeto de desenvolvimento no Brasil. È uma vergonha
estarmos falando isso em 2012. Mas nós vamos ter que aprender.
Belo
Monte é um daqueles erros tão grandes, que talvez a gente aprenda com ele.
Talvez no futuro nós vamos dizer ”olha que porcaria que a gente fez como
brasileiros e não podemos reproduzir mais”, acho que esse é um exemplo
clássico. A recuperação do rio São Francisco, que era pré condição para você
fazer os canais do rio, não se fez, só fez a parte de obra, que era coisa da
empreiteira. E agora estão descobrindo que não tem rio para ir para lá. Cada
dia tem menos água, cada dia o rio está mais comprometido. Se não faz a
recuperação lógico que projetos come esses, que era da integração, não vão
acontecer. Então vamos ter que aprender muito, Belo Monte é um dos exemplos.
Priscila – Muitos ambientalistas
dizem que tem muita terra para gado, mas também tem muito desmatamento para
gado. Afinal, tem terra pou não tem? E a população nãovai parar de crescer,
isso é um problema? Porque todo mundo quer comer carne, e não temos nenhum
controle de natalidade. Estamos crescendo com uma rapidez absurda.
Mario Mantovani - Eu sou
geógrafo, eu acho que o mundo não vai sofrer a teoria Mautusiana, que era
expandir até acabar o mundo. Pelo contrario, nós vamos diminuir, basta ver
quanto custa ter um filho hoje em dia.
O
que acontece é que o Brasil tem 850 milhões de quilômetros quadrados. 200
milhões destes 850 estão para gado. 60 milhões para produzir todo o agronegócio
e a comida que a gente come, dos quais só 20 milhões produz comida para a
gente. O resto produz soja, para ser ração de gado e de porco
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